segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Carga pesada

O automóvel se tornou o principal instrumento de arrecadação do país. De cada R$ 100 que o governo recolhe em impostos, R$ 6 vêm de carros.

O inglês David Rothschild. Herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo, ele vê o planeta pela janela da primeira classe dos aviões e também por meios de transporte alternativos, como a balsa feita de garrafas PET a bordo da qual cruzou o Oceano Pacífico. É dele a frase: “Se um disco voador descer hoje na Terra, os extraterrestres podem achar que a espécie dominante não somos nós, e sim criaturas de quatro rodas feitas de metal”. Nessa visão distanciada de mundo, os humanos seriam escravos que alimentam os automóveis quando eles têm sede, dão banho quando estão sujos e curam seus ferimentos quando eles se machucam.Se um disco voador descer no Brasil, os ETs nem terão dúvida: quem manda aqui é mesmo o carro. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos últimos 15 anos a frota de automóveis do país cresceu 15%. Só no ano passado 3,3 milhões de novos automóveis ganharam as ruas, alta de 10,5% em relação ao ano anterior.

Se somarmos taxas, tributos, multas, contribuições e toda sorte de artifícios usados pelo governo de Estados e municípios para tirar dinheiro da manada automotiva, o carro é – de longe – a maior unidade arrecadatória da República, de acordo com um levantamento exclusivo realizado por ÉPOCA.

O automóvel deverá recolher em 2011, nas três esferas do governo, o equivalente ao PIB do Uruguai. Em outras palavras, o carro parece estar pegando de volta toda a receita que gera para o governo. Um impasse desse tamanho exige uma ação do Estado. Mas o Estado brasileiro ainda vê o automóvel como há 50 anos. Depende dele de forma excessiva.“O consumo de carros é saudável para a economia, mas as pessoas deveriam ter alternativas de transporte e incentivo financeiro para deixá-los em casa”, diz o ambientalista Fabio Feldmann.Assim poderíamos nos dedicar aos carros por vontade própria. Não por escravidão.

http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/10/carga-pesada.html

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